sábado, 6 de outubro de 2012

Apontamento literário


Na primeira linha os meus versos
Vão surgindo de não sei onde...
Parece que já estavam prontos!

Equilibro metáforas e metonímias
E depois que a tempestade cessa
Resquento o café feito quase agora
E me deito já pensando no teu rosto
E numa infinidade de tantos outros mais...

Rasurando o meu nome lentamente
A tua vaidade se exprime azul, vermelha...
Pela tinta da caneta: Oh, matei um anjo!

Patty Hilmer

sábado, 8 de setembro de 2012

Mar além



















Cale-se, não diga nada...
Não desfaça o silêncio
Com palavras porosas
A absorver o que em si
Não convém a verdade.

Não imprima mansidões
Quando tudo é ressaca
E vãs todas as explicações
Desprezíveis e aceitáveis

O mar, azul, dos teus olhos
Irradia uma serena calmaria
Mas que, no fundo esconde
Corais frios e recifes afiados

Ah, como eu queria nadar ...
Contra as tuas correntes pra
Descobrir os teus mistérios!

Mas, pra que me deixar levar
Se eu já sei que as madeiras
Úmidas do teu cais imenso
Não me proporcionam mais
A segurança de um abraço?

No mais - eu - morreria em ti
Sem ao menos te alcançar.

Patty Hilmer

segunda-feira, 27 de agosto de 2012

Primeira sessão




















Tentei demonstrar através das palavras:
Não consegui! Fiquei muda, faltou-me ar.
Tentei num gesto claro e universal dizer:
Não disse! Estanquei todo o gesto no ato!
Tentei gritar, mas eis que o grito não saiu.
Eu quis morrer naquele indecifrável instante!
Triste, fechei os olhos o mais forte que pude.
Logo, as lágrimas escorreram pelo meu rosto.
Então, como se fosse ensaiado ele me beijou...
Tonta, fiquei esperando as letrinhas subirem;
Na minha cabeça aquele momento era eterno.

Patty Hilmer

quinta-feira, 9 de agosto de 2012

A minha poesia


Para Rebeca dos Anjos

Flui de mim para o mundo inteiro
Uma alegria triste e descompassada.

Uma alegria de quem sente tudo o que vê
E vê tudo no que sente desatado e grave
Qualquer sentido de palavra e gesto íntimo
Acalentado publicamente por princípios.

O que sou se perde em meio ao silêncio
De todo ímpeto despedaçado pela culpa.

Não mais uma mulher, mas um corpo
Cheio de um vazio impreenchível
E toda sorte de dores indesejáveis.

Cansada, sou toda solidão que me habita
E a minha poesia é um grito que escorre
Enquanto a minha mão deixa na folha fria:
Minhas dores, meus sorrisos e a minha alma.

Patty Hilmer

segunda-feira, 16 de julho de 2012

Pétalas despedaçadas


Desce esse olhar tão sombrio
Tão sombrio esse olhar desce
E me ataca violento e insaciável
Como um felino jovem e faminto

Sou a sua presa desde o início
E o claro indício da minha sina
Se assina na íris dos teus olhos

Serei devorada pela sua fome
Insone a carne e a alma fria
Do brutal anseio desse gesto

Descerá com minhas lágrimas
Minha alegria e minha vontade
Cortada, arrancada e perdida.

Patty Hilmer

sábado, 23 de junho de 2012

O desejo contido


Devagar abra os seus olhos
Sinta o vento em seu rosto
E o deslizar dos movimentos

Não são barcos são mãos
Deixe-as livres a navegar
Não imponha âncoras
Não desaprume as velas

Apenas sinta, não minta
Permita-se ser tocado
Tão profundamente leve
Quanto este tímido desejo
Que corre quando você passa.


Patty Hilmer

segunda-feira, 21 de maio de 2012

Canção de Partida


Se acaso a dor me parta
E eu fique louca dividida
Não parta nem um segundo
De perto de mim...

É que eu tenho urgência
De estar ao teu lado
Para sentir os teus afagos
E me aquecer na tua alegria.

Não te afastes tanto, amor
É que sem você tudo é vazio
E até os risos são sem graça.

Mas se acaso a dor me parta
Não parta!Fique ao meu lado
Hoje, amanhã eternamente...

Mas se a pressa ferir-te o peito
Saibas tu que bem o amo tanto
Que a dor que sinto é da medida
Exata de tua ausência em mim.

Patty Hilmer

segunda-feira, 7 de maio de 2012

O despertar solene

Quero colher o trigo
De suas promessas
E embebedar-me
Com os vestígios
De tuas certezas

(Ainda que vagas)

Quero o despertar
Solene, como vôos
De pássaros livres
Na manhã deserta

Almejo tuas palavras
E teu silêncio mais sábio

Quero-te igual e diferente,
Tão outro e tão o mesmo
Hoje, amanhã e sempre.

Patty Hilmer

sábado, 28 de abril de 2012

A eterna espera


Amo-te mais a cada segundo
E deliro a febre de te amar
Na angustia do teu regresso

Pois, quando vais para longe
Eu sou a própria ausência
Que me consome e me mata

Sinto a fome dos seus gestos
E a precisão de seus detalhes
Escorrer no silêncio das horas

(e no momento que dor fere)

Fecho meus olhos e te imagino
Mil anos antes de sua partida
Para sempre dos meus braços.


Patty Hilmer